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quinta-feira, 17 de julho de 2014

Entrevista: brasileiro defensor do Wi-Fi livre cobra inovação no País



A contradição preço alto vs. qualidade baixa da internet no Brasil faz com que o povo daqui adore um Wi-Fi gratuito. No começo do ano passado, um brasileiro enxergou que havia nessa constatação uma oportunidade de negócio e agora ele se prepara para colher os primeiros frutos de sua ideia. Mesmo que tudo tenha começado por acaso.

Aleksandar Mandic não é um empreendedor convencional. Prestes a completar 60 anos, o brasileiro com sangue sérvio e bielorrusso superou a falta de diploma superior com experiência de trabalho. A partir da década de 1970 passou quase 20 anos na Siemens, depois fundou a Mandic BBS e fez fama e fortuna apostando na embrionária internet dos anos 90, quando transformou a empresa em Mandic Internet após uma sociedade com o GP Investimentos.
ReproduçãoTornou-se, em 2000, um dos fundadores do portal iG, mas dois anos depois decidiu reabrir a Mandic, dessa vez com foco no mercado corporativo, e a experiência deu tão certo que lhe rendeu R$ 100 milhões em 2012, quando ele passou a empresa à Riverwood Capital - de quem se tornou sócio minoritário.

Antes, em 2010, Aleksandar se candidatou a deputado federal para tentar distribuir internet à população via Wi-Fi e acabou não conseguindo o cargo. Hoje ele continua na Mandic como consultor, mas desde março de 2013 vem dando atenção à quarta iniciativa que ele lança com seu sobrenome. A bola da vez é o aplicativo Mandic magiC, curiosamente um bom companheiro de quem precisa usar o Wi-Fi gratuito de bares, cafés, restaurantes etc.

O app funciona como depositório público de senhas. A pessoa vai à padaria X, pede a senha a um atendente e a registra no Mandic magiC; assim, os demais visitantes não precisam consultar os atendentes, basta procurarem a postagem daquela primeira pessoa. Um mapa dos arredores mostra os locais e as respectivas senhas e, se houver erro, qualquer um pode fazer edições para que os próximos não tenham problemas.

Mas nada disso foi planejado. Aleksandar diz não ter idealizado o Mandic magiC para ganhar dinheiro, e sim para facilitar a própria vida. Como viaja muito, ele tinha o costume de anotar as senhas de Wi-Fi públicos por onde passava e percebeu que um aplicativo facilitaria o trabalho; então seu amigo Eduardo Mauro criou o programa, que com o tempo fez sucesso e agora é um hit nas lojas de aplicativos. Foi uma solução tão caseira que até o nome e o slogan "Não tem segredo" foram pensados despretensiosamente - o magiC tem cê maiúsculo, por exemplo, porque Aleksandar acreditava que isso chamaria atenção.

O aplicativo revela uma coerência no seu pensamento, porque de certa forma facilita o acesso à internet, uma bandeira da sua campanha quando tentou ser deputado. É possível associar uma coisa a outra ou a criação do magiC foi um acaso total?
Foi um acaso total porque eu fiz pra mim, é a mesma história dos anos 1990, eu não montei o BBS pensando na internet, mas sim na troca de arquivos. Como eu viajo muito e eu não falo inglês, se nos Estados Unidos me disserem a senha eu posso não entender. Eu montei pra mim e essa coisa disparou. Aí mudamos de ideia: não é mais só pra mim. Não quero igualar o Mandic magiC a Waze, WhatsApp, serviços consagrados, mas ele vai ter o seu lugar.

A idealização e desenvolvimento do aplicativo foram extremamente simples e ele tem dado certo; o ponto forte parece ter sido mesmo a ideia. O magiC pode servir de exemplo para quem pensa em criar um serviço no Brasil?
O mundo corre muito em volta das social networks, como Facebook e Twitter, e isso [o magiC] é um serviço social de senha, que Facebook, Twitter não têm. Essas redes sociais de hoje têm muita carência em outros serviços. Por acaso o Mandic magiC ocupou um nicho, mas existem outros nichos órfãos. Existem nichos mais óbvios, como reservas em hotéis e pedidos de táxi, por isso eles enfrentam mais concorrência; o de senha parecia menos óbvio.

Quando eu baixei o aplicativo, tive certeza de que havia sido pensado por um brasileiro, porque ele se foca numa situação local. O Mandic magiC faz mais sucesso aqui ou em outros países?
Faz no mundo todo. Mas duas características daqui favorecem o aplicativo: 3G instável e conectividade cara - aqui muita gente nem tem plano de dados. México, Colômbia, Chile, Argentina também são assim. Nos Estados Unidos não é, na Alemanha, Japão também não, nesses lugares a conectividade é barata e boa. Nos países com infraestrutura mais precária o Mandic magiC está bem, ou seja, quase todo o mundo.

É comum surgirem aplicativos brasileiros semelhantes a outros que já fazem sucesso pelo mundo, você acha que falta um pensamento caseiro aos desenvolvedores e empresários daqui?
Eu sempre fui mais atrás do inédito. Eu criei o Mandic magiC porque não existia alguma coisa semelhante e de qualidade. Não achei o aplicativo dos meus sonhos e resolvi criar o meu.

Existem quantos usuários e qual é a plataforma preferida deles?
Atualmente estamos perto de 5 milhões de usuários, sendo que a base cresce em cerca de 35 mil pessoas por dia. O Android é a plataforma preferida. Há algo entre 70% e 80% de usuários no Brasil e 20% ou 30% no resto do mundo, sendo que os países onde o aplicativo faz mais sucesso são Mexico, Portugal, Egito, Arábia Saudita e Marrocos

Você já foi sondado para vender o serviço, certo? Quanto ele vale hoje?
Não para vender, mas estamos negociando uma sociedade num negócio, eu não vou sair. Negociamos um aporte de capital pra decolar rápido e a avaliação está em US$ 50 milhões - justamente o que a gente está negociando, essa é a briga agora, mas não posso dizer nomes.
E ainda assim você não ganha um centavo com o Mandic magiC (apesar de também não gastar). O que falta para monetizar a ferramenta?
Não tem receita mas não tem despesa. Os downloads são feitos pelas próprias lojas, a página é o Facebook, não temos escritório, ou seja, só estou queimando conhecimento e tempo, não dinheiro. O brasileiro tem que levar isso em conta, ele quer o dinheiro muito rápido, mas isso nem sempre é o importante. Para nós o importante agora é ter um produto de qualidade. Dá para ganhar dinheiro com qualquer coisa no mundo, basta ter tamanho; por exemplo, num balde de lixo e um aterro sanitário o conteúdo é o mesmo: lixo, mas o aterro dá dinheiro porque é grande.

Você já tem parcerias na manga para incrementar o aplicativo?
Estamos conversando com dois serviços, vai sair em breve. Este ano saem pelo menos duas parcerias. Temos planos de agregar outros serviços que sejam sinérgicos, como pedidos de táxi, reserva de hotel, entre outras coisas.

Já tem outras ideias de serviços que possam aparecer no mercado em breve?
Eu me concentro, sou monogâmico. Só vou me concentrar no Mandic magiC, não adianta atirar em várias coisas ao mesmo tempo, meu foco hoje é o Mandic magiC. O investidor tem de comprar 10 empresas porque duas vão dar certo, eu não, nem tenho dinheiro pra isso.

Se você pudesse dar um conselho aos desenvolvedores brasileiros, o que diria?
Não espere resultados diferentes se você faz sempre a mesma coisa. Vamos inovar, porque empreendedorismo é inovar.

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